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domingo, 9 de março de 2014

Arena da Amazônia: inauguração após atraso em prazos e três mortes

Nacional x Remo, pela Copa Verde, marca o primeiro teste do único estádio da Região Norte na Copa do Mundo. Veja como foram as obras, iniciadas em 2010



Os dias 5 de abril de 1970 e 12 de julho de 2010 marcaram para sempre a história do futebol amazonense. Se a inauguração do Vivaldão representava a existência de um lugar à altura de um centro em ascensão, a sua demolição era o sinal de que teria início o projeto de um estádio padrão Fifa. Ele traz tanto a esperança de um futuro melhor para o futebol local quanto a preocupação com o seu uso após a Copa do Mundo. Essa nova história terá um importante capítulo neste domingo, com a inauguração da Arena Amazônia, às 18h30m locais (19h30m de Brasília), na partida entre Nacional e Remo, pelas quartas de final da Copa Verde.

O novo estádio, que teve custo de R$ 605 milhões, estreia com 97,59% dos trabalhos concluídos. Sofreu atrasos no cronograma - a primeira previsão era de entrega no primeiro semestre de 2013 - e teve o maior número de mortes de operários (três) entre as construções para o Mundial. 

Foram colocados 20 mil ingressos à venda para o jogo deste domingo. O governador Omar Aziz esteve no local na quarta-feira passada e afirmou que ainda haverá percalços e que seráo feitos vários testes antes de "estar em 100% em funcionalidade". O teste seguinte da Arena será na próxima quarta-feira, na primeira partida da final da Taça Estado do Amazonas (o primeiro turno do estadual), entre Fast e Princesa do Solimões.

O pontapé inicial neste domingo terá a presença do lutador José Aldo e do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. A Arena receberá quatro jogos da Copa do Mundo: Inglaterra x Itália, Portugal x Estados Unidos, Croácia x Camarões e Suíça x Honduras.

Com arquitetura inspirada na região amazônica, a Arena tem 44,5 mil cadeiras, 61 camarotes, elevadores, 400 vagas em estacionamento subterrâneo, acessibilidade para portadores de necessidades especiais e restaurantes. Por ter no projeto a cobertura e fachada inspiradas em um cesto indígena, a materialização não foi fácil. As peças da estrutura metálica foram importadas de Portugal e um dos principais guindastes da obra chegou direto da Arena do Grêmio, de Porto Alegre. Precisaram cruzar o Oceano Atlântico, de navio, até chegar ao porto amazonense. No total, o processo de desembarque e transporte de todas as peças da estrutura até o estádio demorou quase cinco meses.

Uma vez concluída a instalação das peças, apelidadas de "X", faltavam as membranas da cobertura. Foram necessários 31 mil metros quadrados do material, composto de fibra de vidro, revestida de teflon (PTFE) e dividido em 252 peças. Mais de cem trabalhadores foram empregados para tampar a cobertura. Inicialmente branco, o material utilizado na estrutura é fotossensível, ou seja, irá clarear com a incidência dos raios solares. Para a escolha do tecido, foi levada em conta a absorção do calor - típico do Amazonas - que ele proporciona. Além da membrana especial, a altura das arquibancadas e a arquitetura dão um alívio de 1 a 5 graus na temperatura dentro da Arena.



Com o cesto da cobertura estruturado, o coordenador da Unidade Gestora da Copa (UGP), Miguel Capobiango, sintetizou todo o contexto arquitetônico do estádio:

- Em tese, a nossa arena é um grande cesto de frutas.

Se a estrutura metálica do estádio simula o cesto regional, os assentos do estádio simbolizam frutas amazônicas. Em tons de amarelo, laranja e coral, as cores representam frutas da região, como banana, melão, laranja, goiaba e abacaxi. No fim, o casamento das influências regionais rendeu ao estádio elogios significativos vindos desde operários à presidente Dilma Rousseff, que apontou:

- O mais bonito, eu não sei qual é. Se eu falar que um é mais bonito que outro, alguns vão ficar com raiva. Todas as arenas são muito bonitas, agora, seguramente, esta é uma das mais bonitas.

Outro grande ponto do estádio é a sustentabilidade oferecida pelo projeto. O plano? Ser a Arena mais sustentável do país. A mesma membrana que poupará o público do forte calor servirá para aproveitamento da luz solar. O sistema de irrigação do gramado também será responsável pelo reaproveitamento da água da chuva. Gramado esse que, ao contrário da expectativa geral, não causou grandes transtornos às obras.

Bastaram apenas quatro dias para que a Arena da Amazônia tivesse todo o plantio concluído. Em pouco mais de um mês, já tinha cara de campo. A Greenleaf, responsável pelos campos de todas as sedes da Copa das Confederações, usou a espécie Bermuda 419, ideal para o clima quente da região amazônica e resistente a pisoteio.

Em suma, apesar de altos e baixos e dos investimentos de R$ 605 milhões, a Arena da Amazônia saiu do papel com cara de casa do futebol. Foram quatro anos de obra. Da queda do Colosso do Norte (estádio Vivaldo Lima) ao nascimento de uma nova casa. Para relembrar o processo, confira o retrospecto da obra feito pelo GloboEsporte.com.
2010 e 2011: dada a largada

O ano da despedida do antigo estádio foi 2010. O amazonense acompanhou, pouco a pouco, a desmontagem do Vivaldão. De março até agosto, todos os trabalhos foram direcionados para a retirada de peças que marcaram história no Colosso do Norte. Em julho, foi dada a largada, de fato, à demolição da antiga construção. Em seguida, deu-se início ao processo de terraplanagem, base de qualquer fundação.



Já era início de 2011, e a construção da nova casa saía, aos poucos, do papel. À época, calculava-se que, somente com as novas instalações no setor leste do estádio, a Arena já possuía capacidade para comportar cerca de 2.300 torcedores. Alguns meses de trabalho seguiram sem grandes surpresas para que, em novembro, com a conclusão das estacas de fundação, as obras atingissem a marca de 30% de conclusão.
2012: problemas à vista


Até o início de 2012, o cronograma seguia bem. Ou seguiu, até março. Atraso nas obras e prolongamento do prazo final foram as principais pautas do ano. Não era para menos. Em 12 meses, o estádio teve pouca evolução: em fevereiro, eram 35%; em dezembro, cerca de 45%.



O ano começou com a montagem das arquibancadas inferiores. Na mesma época, a instalação dos últimos blocos de fundações foi concluída. Já era março e, até aí, tudo bem. Foi então que surgiram os primeiros burburinhos acerca de um atraso na entrega da obra. Ainda que, quando questionado, o Governo declarasse como certa a entrega do estádio em junho de 2013, foi difícil fugir do óbvio. No fim de março, a UGP admitiu que as obras não estavam no cronograma planejado. A causa, segundo Capobiango, era a demora de liberação de verbas do BNDES, que financiou R$ 400 milhões do total do valor da obra.
Já era dezembro de 2012 e a obra - que no cronograma inicial seria entregue no primeiro semestre de 2013 - ainda apontava os iniciais 50% de conclusão. A óbvia previsão de que a entrega seria prolongada veio a ser confirmada, pessoalmente, pelo governador do Amazonas, Omar Aziz, para 20 de dezembro de 2013.

2013: mortes e evolução

 

E então chegou 2013, de altos e baixos. E principalmente de perdas. Apesar dos avanços na obra, o ano ficou marcado pelas mortes de dois operários. O fato, claro, levou a classe a uma revolta geral. Greve, visitas constantes do Ministério Público do Trabalho e breve paralisação das obras foram os principais acontecimentos do ano. 

A primeira morte ocorreu no dia 28 de março: Raimundo Nonato Lima Costa, que operava no setor de concretagem da obra. O Instituto Médico Legal afirmou que a causa foi um traumatismo craniano, decorrente de uma queda de, aproximadamente, cinco metros de altura. De acordo com a polícia, o operário se desequilibrou e caiu ao tentar passar de uma coluna para um andaime.

Passaram-se nove meses, e a tragédia ainda era, vez ou outra, lembrada. E então, na madrugada do dia 14 de dezembro, houve mais uma vítima: Marcleudo de Melo Ferreira, de 22 anos. Desta vez, o operário trabalhava numa altura de 45 metros, enquanto colocava uma membrana de proteção da cobertura na área lateral, quando despencou. O operário ainda foi encaminhado com vida ao pronto-socorro 28 de Agosto, na Zona Centro-Sul da capital, mas não resistiu aos ferimentos.



Visita do MPT e greve

A morte do segundo operário fez com que as obras ficassem paralisadas por quase cinco dias. Como o acidente foi em um sábado, na segunda-feira seguinte o Ministério Público do Trabalho (MPT) encaminhou peritos ao canteiro de obras do estádio, para realizar perícia judicial, determinada pela Justiça para averiguar o cumprimento das obrigações de segurança pela Construtora Andrade Gutierrez. O laudo final da perícia, divulgado poucos dias depois, apontava que 63 das 64 exigências de segurança do MPT não eram cumpridas. A obra ficou paralisada por três dias, além do fim de semana, e só retomou os trabalhos depois da liberação do MPT.



Mãos à obra

O lado positivo no ano foi o grande avanço nas obras. Se 2012 teve evolução de pouco mais de 15 pontos percentuais, 2013 alcançou a mesma estatística em abril.

Ao longo do ano, a Arena mudou de cenário. Finalização da estrutura metálica, instalação das membranas, plantio do gramado e os assentos deram outra cara ao estádio. Os vestiários, apesar de atrasados, seguiram o padrão Fifa: são quatro para os jogadores, cada um com seis banheiros e oito chuveiros. Além dos vestiários, cada time terá seu módulo de banheiras. Cada módulo, três banheiras. Para o público em geral, serão 18 banheiros distribuídos pelo estádio.

Apesar dos avanços, o período determinado para a entrega dos trabalhos - 20 de dezembro - não foi cumprido. O governo estipulou outras datas para janeiro de 2014, mas nenhuma foi alcançada. A justificativa era que aguardavam uma data na agenda da presidente Dilma Roussef.



2014: últimos detalhes e novo acidente


O ano de 2014 começou trágico. Não fazia nem um ano desde a primeira morte, quando a Arena teve o terceiro registro de acidente fatal: Antônio José Pita Martins, português, de 55 anos. Enquanto estava desmontando um dos guindastes da cobertura da Arena da Amazônia, uma peça caiu em sua cabeça. Ainda com vida após o acidente, chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu.

A terceira morte fez com que o Governo do Amazonas não estabelecesse um dia para a entrega do estádio, pois ainda aguardavam um espaço na agenda da presidente Dilma Roussef. A chefe de Estado enfim viajou a Manaus, elogiou as instalações, mas não a inaugurou. Então, após outras datas, foi decidido que a inauguração ocorreria com o duelo entre Nacional e Remo, neste domingo, válido pelas quartas de final da Copa Verde - e sem a presença da presidente. A partida será realizada com o estádio em 97,59% dos trabalhos concluídos.




Fonte: http://globoesporte.globo.com

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