José mora em Montes Claros e completou 105 anos no mês das eleições.
Ele diz que é do tempo em que 'o voto era no papel e na carabina'.
Era antes das 6h quando José dos Santos acordou. A ansiedade fez com que a noite, que antecedeu o dia 26, véspera das eleições, se tornasse longa. A data estava sendo aguardada com certa impaciência pelo aposentado de 105 anos, que nasceu em Catulé (BA) e mora em Montes Claros (MG). Desde que adquiriu o direito ao voto, Seu Zezinho, como é conhecido, fala que “nunca falhou uma eleição”, tudo isso porque ele diz que “é brasileiro e quer o bem da nação”.
Ao longo do tempo, José dos Santos conta que presenciou muitas mudanças no processo eleitoral brasileiro. Fala que na época dele “o voto era no papel e na carabina”.
“A gente se reunia com os homens de capa preta, debaixo da capa havia uma carabina e um saco de balas. Era o voto chamado de cabresto, hoje não, o sujeito tem o querer para poder votar, antes não havia isso.”
Apesar das transformações, Seu Zezinho diz que a tecnologia o agradou, o que pode ser comprovado pelo tempo que ele demorou para confirmar a escolha na urna; nem um minuto. Para ajudar a memória, o aposentado leva a “colinha”, com o nome e o número dos candidatos”.
“Peço minha filha para escrever, porque ela escreve mais ligeiro, assim não me confundo e não esqueço, quero ter a certeza de que estou dando meu voto a quem realmente merece.”
Críticas à política
Pai de 10 filhos, que lhe renderam 22 netos, 20 bisnetos e um tataraneto, Seu Zezinho diz que espera um país com melhores condições na saúde, educação e segurança para a família dele e para todos o brasileiros.
“Tem muita gente no Brasil que quer muito estudar e não tem condições. Neste caso, não basta ter só vontade, é preciso ter ajuda dos governantes. Em relação à segurança, os bandidos precisam ficar na cadeia, praticam crimes e não são presos. A Justiça tem que prevalecer.”
Ao longo da vida, o aposentado já teve pelo menos quatro empregos; ourives, relojoeiro, sapateiro e celeiro. Apesar de sempre fazer questão de votar, nunca pensou em se aproximar da política ao ponto de exercer um cargo.
“Como dizem por aí, para ser político o sujeito precisa perder a vergonha. Os políticos roubam tanto que precisam esconder o dinheiro fora do país. Todo mundo sabe onde está o dinheiro, mas ninguém toma providências, afinal a maioria também tem sua parte para ser acusado por alguma coisa”, destaca.
Longevidade e saúde
Desde que a esposa de José dos Santos morreu, há 11 anos, ele mora com a filha, Maria das Graças Santos Freitas. Ela conta que o pai tem a saúde em perfeito estado. “Ele come de tudo, toma banho sozinho e não ingere nenhum remédio. Lê as bulas do medicamento sem óculos, tece tapetes, reza, ouve música, assiste televisão e dança.”
A dança, aliás é uma das distrações preferidas de Seu Zezinho, especialmente o forró. “Tenho vários troféus e medalhas na parede da minha casa, ganhei tudo dançando, dançava uma música com três, quatro mulheres, cheguei até a arrumar umas namoradas”, brinca o aposentado.
Maria das Graças conta ainda que o pai acompanha desde as propagandas eleitorais até a apuração dos votos, e ainda quer saber o que os candidatos eleitos estão fazendo depois que tomam posse. “Acho isso maravilhoso, ele é totalmente lúcido e faz questão de exercer os direitos dele”, ressalta.
Após votar, Seu Zezinho, que fez aniversário no mês das eleições, no dia 4, fala que espera ansioso pela próxima ida às urnas. “Só peço a Deus saúde, e enquanto ele me der, eu estou aqui, firme e forte, exercendo meu papel de cidadão.”
Fonte:http://g1.globo.com
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