James Rodríguez faz os dois gols da vitória de 2 a 0 no Maracanã, leva os cafeteros a sua melhor campanha em Copas e evita revanche da final de 50
No Maracanã o fantasma nasceu, no Maracanã o fantasma se despediu.
Graças à melhor Colômbia que já pisou as chuteiras numa Copa do Mundo,
não acontecerá a tão esperada revanche da final da Copa do Mundo de
1950. É a talentosa seleção comandada pelo craque James Rodríguez, dono
da vitória de 2 a 0 neste sábado, quem desafiará o Brasil nas quartas de
final do Mundial. E o fantasma sai de cena – o Uruguai está fora da
Copa.
A assombração agora é outra. A mística uruguaia, com as lembranças de
64 anos atrás, dá lugar à exuberância da seleção cafetera. A Colômbia
jamais havia passado das oitavas de final em uma Copa do Mundo. Pois
agora passou com sobras: tem 100% de aproveitamento, 11 gols marcados,
apenas dois sofridos e uma campanha superior à do Brasil – que precisou
recorrer aos pênaltis para eliminar o Chile. E tem James Rodríguez...
O camisa 10, melhor jogador da primeira fase para a Fifa, fez um golaço
para ser cristalizado nas retinas colombianas. Matou no peito e, sem
deixar a bola cair, abriu o placar da vitória – complementada por ele
próprio no segundo tempo. O Uruguai, valente como sempre, abastecido de
indignação pela suspensão aplicada a Luis Suárez, teve força para
encarar o adversário. Mas não teve futebol. A equipe de José Pekerman é
bastante melhor.
Sexta-feira, dia 4 de julho, às 17h (de Brasília), Brasil e Colômbia se
enfrentam na Arena Castelão, em Fortaleza. O vencedor estará nas
semifinais.
Tensão e pintura
Quando a bola começou a rolar no Maracanã, na despedida da tarde
carioca, dois sentimentos saíam de cada canto do estádio e eram tão
firmes, tão presentes, que quase deixavam de ser abstrações para se
tornar sólidos – objetos que podem ser tocados. A raiva dos uruguaios
estava presente em cada semblante, em cada máscara de Suárez a
ornamentar um rosto, em cada faixa expelindo indignações contra a
punição que alijou o atacante da Copa. E era proporcional ao surto de
euforia dos colombianos, em êxtase com uma seleção que lhes permite
sonhar um sonho outrora utópico.
A presença de dois estados de espírito tão opostos deixou o jogo tenso
em campo e fora dele. Enquanto os atletas discutiam, dividiam cada bola
com um pouco mais de força (especialmente os uruguaios), torcedores se
desafiavam nas cadeiras, xingavam uns aos outros (especialmente os
uruguaios).
No gramado, o que se viu foi uma Colômbia muito mais talentosa e um
Uruguai além de seus próprios limites de obstinação – algo que poderia
parecer impossível para uma equipe que tem a garra tatuada na alma desde
que o mundo é mundo. Só que a diferença pró-Colômbia no primeiro
quesito é maior do que a diferença pró-Uruguai no segundo. Não por
acaso, o time de José Pekerman, na bola, na qualidade, pulou na frente
na etapa inicial.
E foi justo. A Colômbia propôs o jogo, se mostrou mais veloz, usou
melhor os lados. E tem um diamante em campo com a camisa 10. Aos 27
minutos, a bola pareceu se teleguiar até o peito de James Rodríguez. Ele
a aninhou no corpo e, na queda, já emendou de canhota. O toque no
travessão foi o último ato antes do grito de gol. De golaço. De enorme
golaço.
A Colômbia teve 63% de posse, mais saídas para o ataque e mais do que o
dobro de tentativas de gol do que o Uruguai no primeiro tempo. Mas sua
superioridade não a deixou imune a ataques celestes. Cavani, de falta,
quase empatou. E depois, pelo alto, não desviou de cabeça por detalhes –
seria fatal a conclusão.
O fantasma sai de cena
O começo do segundo tempo ainda não estava munido de definições.
Afinal, era o Uruguai do outro lado: tudo poderia acontecer. Mas não
demorou para o fantasma sair de cena. Aos quatro minutos, a Colômbia
trocou passes de pé em pé. Armero, da esquerda, mandou na cabeça de
Cuadrado, que deixou a bola redonda (com o perdão do trocadilho) para
James Rodríguez completar para a rede: 2 a 0, quinto gol do camisa 10 na
Copa, agora artilheiro isolado, deixando Neymar, Messi e Thomas Müller
para trás.
O Uruguai fez o que podia para reagir. Óscar Tabárez tirou Forlán (uma
triste versão do craque do Mundial de 2010) e Álvaro Pereira para
colocar Stuani e Gastón Ramírez. A seleção celeste até criou algumas
chances, geralmente com Cavani, mas jamais deu pinta de que poderia
virar o jogo – até porque o goleiro Ospina foi infalível. Com o passar
do tempo, o time charrua ainda se tornou excessivamente viril – como em
pancada desleal de Ramírez em Armero.
Enquanto isso, a parte brasileira da torcida passou a gritar
“eliminado” para o Uruguai e a avisar aos próximos adversários:
“Colômbia, pode esperar, a tua hora vai chegar”. Mas eles pouco ligaram.
Responderam cantando: “Se vive, se sente, Colômbia está presente”.
E está mesmo. Como jamais esteve.
Fonte: http://globoesporte.globo.com
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