No programa “Milênio” na Globo News foi
exibida uma entrevista com o filósofo Alain de Botton, famoso por trazer
a filosofia ao cotidiano. Alain escreveu recentemente um livro chamado
“Notícias” e esse foi o foco principal da entrevista.
Me
chamou atenção o fato que ao descrever uma forma melhorada de se fazer
um telejornal ele praticamente descreveu o que faz hoje o jornalista
Marcelo Rezende no Cidade Alerta.
Alain
comentou que hoje somos bombardeados com centenas de notícias e que
elas chegam a competir com nossas vidas. E que “… você aproveitaria
melhor e conheceria melhor a realidade se concentrando em uma só
história e a acompanhando direito”.
Ele
contou de um jornal britânico que em trinta minutos exibia 20 histórias
diferentes (tal como os nossos jornais). Então ele perguntou ao editor
se ele tinha medo que as pessoas não conseguiriam se concentrar mais de
dois minutos, o que ele respondeu: “Sim! Esse é o terror de quem
trabalha com a notícia”.
Ele também
comentou que não tem nada contra a exibição de tragédias em telejornais
(assunto esse que é muito criticado no Brasil por uma certa elite
intelectual que vê esse tipo de notícia como “sensacionalismo”). Citou
como exemplo a Grécia Antiga, em que as pessoas iam para o entorno da
acrópole para ouvirem tragédias escritas por pessoas como Sófocles e
Eurípedes. Mas elas acreditavam que conhecer essas tragédias as tornava
mais civilizadas, pela maneira como eram apresentadas.
Não
eram só fatos objetivos, havia uma reflexão entorno daquele assunto que
serviria como lição. Ele deu exemplos: diante de uma tragédia as
pessoas refletiam como a vida é frágil. Diante de um surto que gerou um
assassinato, por exemplo, os gregos sentiam compaixão pela facilidade
com que um ser humano pode enlouquecer.
“Muitas
vezes as notícias nos dão os ingredientes, mas não os cozinha, não
prepara o alimento direito, e nos deixa subnutridos”, disse.
Ele
também comentou que as habilidades para tornar uma notícia importante
são próximas às de um artista. Vendo essa entrevista eu reconheci que o
Marcelo Rezende faz exatamente o que ele disse que os jornalistas
deveriam fazer, age como artista.
Ele
“cozinha” a notícia, conta a história do ser humano que cometeu a
atrocidade e também a da vítima. Ele se concentra em uma só história não
se importando com o tempo que levará para contá-la. Reflete sobre o
assunto.
E diferente do que pensa o
editor do jornal britânico que Alain mencionou, o público, pelo menos o
brasileiro, consegue sim se concentrar por mais de dois minutos em um
único assunto, a alta audiência alcançada pelo “Cidade Alerta” é a maior
prova.
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